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Encontros no Travessias | A arte rompendo barreiras

“Estou um pouco nervoso, não sei se vou conseguir traduzir o que tenho tentado fazer em nove anos de fotografia”, disse o fotógrafo Ratão Diniz ao abrir o terceiro encontro do Travessias 2. Ele não estava à vontade, as mãos tremiam e, ao contrário de outros artistas, preferiu falar de pé. O que ele não imaginava era que, trinta minutos depois, encerraria o mesmo discurso ovacionado pela plateia emocionada de quase cem pessoas, que incluía ninguém menos que o músico Marcelo Yuka.

Ratão é uma das fortes vozes da Maré. Segundo ele, vive para a fotografia e não dela. É morador do Beco da Alegria, na comunidade Nova Holanda e formado pela Escola de Fotógrafos Populares. Para Yuka, a obra de Ratão discute espaços, mas não só os da favela.

- A arte é romper barreiras. Sua foto transcende o que há de melhor em nós e convida o outro a olhar como você. E sentir é o melhor que podemos fazer como espécie. Eu não conhecia o seu trabalho, mas agora não consigo tirá-lo da minha cabeça, elogiou o músico.

As histórias de Ratão impressionaram tanto Marcelo Yuka que a carreira do ex-integrante do Rappa se tornou assunto coadjuvante no encontro. O depoimento do músico envolveu pontos em comum entre os dois artistas: as raízes no subúrbio carioca e a forte influência que têm das expressões populares menos cultas. “Eu só me alimento pelo que é feito na periferia. São movimentos autênticos e fortes, que simplesmente são, não se perguntam o porquê”, definiu Yuka.

O encontro também teve a participação do advogado Ronaldo Lemos, que está à frente do projeto Marco Civil da Internet. Ronaldo trouxe uma diferente abordagem sobre as expressões populares. Especialista em Tecnologia e Sociedade, ele compartilhou uma pesquisa sobre celulares no mundo. O resultado mostra que os telefones alternativos – aqueles que custam menos de 100 dólares – estão ocupando e transformando a tecnologia considerada mais nobre. “As novidades hoje em dia vêm da tecnologia pensada para pessoas que estão na base da pirâmide social”, explicou Ronaldo.

Yuka complementou Ronaldo dizendo que essa atualização não é nada além de uma necessidade. “As pessoas da periferia procuram ser contemporâneas na marra, porque precisam estar atuais no mundo. Para eles, é mole, afinal têm que driblar as adversidades da vida todo o tempo”.

O próximo encontro do Travessias será no dia 8 de junho, com a presença dos artistas Daniel Senise e Vik Muniz e de Paul Heritage, do projeto Rio Occupation London. A partir das 16h, não perca.