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Segundo Encontro Travessias

Encontros no Travessias | Ocupando se transforma

Não foi a primeira vez que Fernanda Abreu e MV Bill se encontraram. Há alguns anos, os dois se cruzaram e Fernanda comentou “Bill, minha filha curte muito o seu som”. A reação de Bill foi dizer que a música dele era para as pessoas da favela. A resposta não foi exatamente o que a cantora esperava, mas o rapper só conseguiu explicar o porquê no segundo encontro dos dois, e por coincidência, o segundo do Travessias 2013.

Além de Fernanda Abreu e MV Bill, participaram do encontro o artista plástico Carlos Vergara e o economista Ricardo Henriques. Os convidados se dedicaram a explorar diferentes níveis de ocupação – territorial, cultural e, principalmente, de ideias. E a ocupação da mente fez com que Bill recordasse a primeira vez que falou com Fernanda.

- Quando você me falou que sua filha, uma criança da classe média, se amarrava no meu som, eu fiquei “puto”. Eu tinha um preconceito às avessas e achava que minha música só tinha que ser ouvida pelos favelados, somente pelos pretos. E lembro de você me dizer, muito gentil, que eu não poderia impor limites para a minha música. Eu era muito marrento e discuti com você. Hoje, é maneiro admitir isso, porque mostra a minha mudança, explicou o rapper.

Na semana em que foi feita a primeira perícia criminal da história da Maré, resultado da movimentação popular muito forte através de redes sociais no combate a instalação violenta da UPP, o galpão do Centro de Artes da Maré foi completamente ocupado por pessoas de todas as partes da cidade. A proposta, para o coordenador do Observatório de Favelas, Jailson Souza e Silva, era “responder a essa violência com muita alegria e conhecimento”.

Carlos Vergara abriu o bate-papo questionando qual a função da arte. “A arte serve para tornar o olhar maior, para vermos mais fundo e ver em coisas insignificantes”, o artista explica. Em 1968, a exposição PENSE, de Vergara, foi violentamente fechada pela polícia de repressão da ditadura militar. O artista relacionou o fechamento da exposição há 45 anos com o processo de intervenção violenta do estado que se repetiu na Maré nas últimas semanas.

O economista Ricardo Henriques relacionou todo esse processo com a educação que a família e a escola dão para as crianças. Ricardo, que se considera “inventor de tecnologias sociais”, acredita que é preciso ressignificar a capacidade de produzir pensamentos. Para ele, a relação entre a polícia e a população ainda é de muito medo e muita desconfiança. “Assim não há como criar afeto. Precisamos romper essa tensão e parar de privar essa população do que há de mais positivo. Para isso servem esses espaços criativos, para combater a desigualdade”, defendeu o economista.

O próximo encontro do Travessias será no dia 25 de maio, sábado, às 16h no Centro de Artes da Maré, espaço ao lado do Galpão Bela Maré. O fotógrafo Ratão Diniz, o diretor do Creative Commons Brasil, Ronaldo Lemos, o cineasta José Padilha e o músico Marcelo Yuka serão os convidados. Não perca.