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Artistas

Arjan Martiz

Arjan Martins

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Cadu

Carlos Vergara

Carlos Vergara

Daniel Senise

Daniel Senise

Ernesto Neto

Ernesto Neto

Lucas Bambozzi

Lucas Bambozzi

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Luiza Baldan

 

Marcelo Silveira

Marcelo Silveira

Ratão Diniz

Ratão Diniz

Vik Muniz

Vik Muniz

Travessias-Arte-Maré

Travessias-Arte-Maré

O Rio de Janeiro passa hoje por grandes mudanças urbanísticas, arquitetônicas, políticas, econômicas e culturais. Na verdade, toda grande cidade do mundo está sempre em permanente transformação, redefinindo suas fronteiras, reinventando-se a cada dia. Mas há uma singularidade na transformação que o Rio vive nesse momento, ela se dá em sintonia e simultaneidade com outras duas grandes mudanças planetárias: o surgimento de uma nova sensibilidade humana decorrente das recentes formas de comunicação e vida digital; e um novo desenho mundial com as nações emergentes mais fortalecidas.

O Rio hoje cresce dentro do seu próprio tamanho, sem empurrar suas fronteiras, apenas reinventando o próprio território, cresce na cabeça e na estima do cidadão. Um dos traços importantes dessa transformação é o movimento da cidade caminhando definitivamente para além da zona sul. O carioca pouco a pouco abandona o velho clichê tacanho e começa a perceber que a cidade é muito maior do que os bairros que beiram a praia. Novas regiões renascem e passam a ser compartilhadas pela população local e pelos visitantes. E é nesse momento de concílio com a cidade, de diálogo entre distintas formações sociais e econômicas, de conviver e entender as diferenças do outro, que a exposição Travessias 2 – Arte Contemporânea na Maré se coloca.

As perguntas que pairam no ar são: como viver em um mundo regido por diferenças, e qual o papel do artista nessa cidade que muda vertiginosamente?

Um ponto fundamental da exposição Travessias 2 é o seu caráter educativo, pois acreditamos que a aliança entre educação e cultura são pontos-chaves para a mudança social e política de qualquer sociedade.

A reunião dos artistas se dá pela qualidade de suas obras, pelo impacto visual e, mais do que isso, pelo poder de transformação do olhar que elas revelam. Estão reunidas as novas pesquisas sobre a ampliação da pintura (nas obras de Daniel Senise e Carlos Vergara) ou como este suporte se alia a um lirismo que revela a precisão dos gestos do artista e de seu olhar poético sobre cenas fotográficas colecionadas ao acaso (como nas obras de Arjan Martins). Há ainda a escultura que se lança ao espaço com um sentido de experimentação (nas obras de Cadu e Ernesto Neto), a apropriação e desconstrução da fotografia (Vik Muniz) e o modo como o uso documental dela é explorado pelos artistas visuais (nas obras de Luiza Baldan e Ratão Diniz) ou como ela se relaciona com a escultura (no caso de Marcelo Silveira), ou ainda a apropriação poética e política (nos vídeos de Lucas Bambozzi).

Essas obras se encontram aqui em torno da ideia de transformação, de uma cidade em trânsito. Sejam nas pequenas caixas/maquetes que ampliam a dimensão de salas e obras de importantes museus realizadas por Senise; nos aeromodelos de montar que Cadu subverte em sua prática escultórica; na obra mole de Neto que cria uma relação entre corpo, ritmo e música, alargando o conceito de escultura e criando um ambiente que é regido pela “pele” e pelo som; ou nas colagens em formato lambe-lambe na obra de Silveira, compondo uma paisagem ou relevo de um território e memórias fictícias. A exuberância visual das obras de Vik Muniz atraem o espectador como num jogo de erros, há um embaralhamento e sobreposição de recortes de revistas formando uma segunda imagem que se constrói e desconstrói à medida que nos aproximamos ou afastamos das obras. Vergara decalca a cidade e faz dela um signo de sua própria história. Suas monotipias asseguram a permanência daquele lugar através do tempo, nos fazem perceber não apenas a ampliação o que pode ser chamado de pintura, mas aliam esse suporte a uma investigação sobre a própria memória do lugar. Baldan, Bambozzi e Ratão documentam, cada um a seu modo e por meio de distintos suportes, os indícios de uma cidade e de seus personagens que se reconstroem a cada instante. Nas obras desses três artistas, há uma proximidade entre o que está sendo visto e quem o vê, sem uma apelação ao clichê. É uma aproximação que se dá pelo afeto, pelo reconhecimento – em especial nas fotos de Baldan e de Multidão, de Bambozzi –, e não porque ambos estão em um estado de carência ou abandono (imagem e visitante). São obras celebratórias, definitivamente.

Dialogar e compreender o desconhecido ou o diferente na arte (as primeiras perguntas que fazemos quando estamos diante de uma obra de arte geralmente são: o que é isto? Para que serve?) é deslocar essa mesma relação para a nossa vida e, mais do que isso, compreender que aquele diálogo com o diferente pode moldar o nosso olhar e a nossa alma. Uma condição, por sua vez, que pode ser levada para qualquer relação interpessoal. Mais uma vez se coloca a questão: como compreender ou dialogar com aquilo que – aparentemente – é tão diferente de nós? Respondemos a esta pergunta com outra: mas não é exatamente isso o que passamos em todos os momentos da nossa vida? A arte quer preencher esse intervalo, possibilitar ao espectador uma visão ampla e democrática sobre o mundo, e fundamentalmente deixar claro que a diferença não é ruim, pelo contrário, é ela que possibilita a riqueza e a diversidade da nossa cultura e cidadania.

Travessias 2 – Arte Contemporânea na Maré é uma exposição que cria, desta forma, uma correspondência com novos sentimentos que atravessam a cidade: reinvenção, recuperação e transformação. As obras de arte aqui reunidas atuam na formação de um novo cidadão/espectador conectado com a descoberta das fronteiras móveis da cidade. O papel dos artistas hoje é tornar aparente a escala do mundo e seus fluxos que crescem sem parar.

Felipe Scovino e Raul Mourão, curadores

Felipe Scovino

Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Felipe Scovino é professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi curador dentre outras das exposições Arquivo contemporâneo (MAC, Niterói, 2009), Décio Vieira (Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, 2010), O lugar da linha (Paço das Artes, São Paulo; MAC, Niterói, 2010), Entre desejos e utopias (A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010), Estética da gambiarra (Cavalariças do Parque Lage, Rio de Janeiro, 2012) e Estes Nortes (Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, 2012). Foi curador de Lygia Clark: uma retrospectiva (Itaú Cultural, São Paulo, 2012) ao lado de Paulo Sergio Duarte. É um dos curadores do Rumos Artes Visuais 2011-13. É organizador dos livros Arquivo Contemporâneo (7Letras, 2009), Cildo Meireles (Azougue Editorial, 2009) e Carlos Zilio (Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 2010). Escreveu ensaios sobre arte contemporânea brasileira para as revistas Art Review, Dardo Magazine, Flash Art, L’Officiel Art, Third Text, Arte & Ensaios, Concinnitas. Em 2012 foi convidado a participar do programa de intercâmbio Young Curators Invitational (YCI) em Paris com patrocínio do Ministério da Cultura da França. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Raul Mourão

Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. 

Raul Mourão é artista plástico, nasceu no Rio de Janeiro em 1967, estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e atualmente vive e trabalha entre NY e Rio.

Como curador e produtor organizou exposições individuais de Fernanda Gomes, Cabelo, Tatiana Grinberg, Brigida Baltar, João Modé e as coletivas Love’s House (Hotel Love’s House, Rio de Janeiro) e Outra Coisa (Museu da Vale, Vila Velha). Foi editor das revistas de arte o Carioca e item. Fez também a coordenação geral do espetáculo multimídia FreeZone que reuniu artistas de diversas áreas sob curadoria do poeta Chacal no Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. Junto com Eduardo Coimbra, Luiza Mello e Ricardo Basbaum criou e dirigiu a galeria e produtora AGORA que funcionou na Lapa, Rio de Janeiro, entre 2000 e 2002.

Mourão apresenta seu trabalho em exposições individuais e coletivas desde 1991. Suas obras, construídas com diversos materiais, desenvolvem um vocabulário plástico com elementos da visualidade urbana deslocados de seu contexto usual. Entre eles há referências ao esporte, à arquitetura, aos botequins e à sinalização de obras públicas.

Em 2005 lançou o livro ARTEBRA pela editora Casa da Palavra e em 2011 lançou o livro MOV pela Automatica Edições.

A partir de 2010 iniciou sua série de esculturas cinéticas que foram exibidas nas exposições individuais: Tração Animal no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Homenagem ao Cubo na Lurixs Arte Contemporânea, Rio de Janeiro; Toque Devagar na Praça Tiradentes, Rio de Janeiro; Balanço Geral, no Atelier Subterrânea, Porto Alegre; Cuidado Quente, na Galeria Nara Roesler, São Paulo; e Chão, Parede e Gente, na Galeria Lurixs, Rio de Janeiro. E também nas exposições coletivas Projetos (in)Provados, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro; Ponto de Equilíbrio, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo; Mostra Paralela 2010, no Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo; Travessias, no Centro de Arte Bela Maré, Rio de Janeiro; e From the Margin to The Edge, Sommerset House, Londres.

Possui obras nas coleções do Itaú Cultural – São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Museu de Arte do Rio, Coleção Gilberto Chateaubriand, ASU Art Museum e Brazil Golden Art.