Contam os livros de História que o chiado do jeito de falar dos habitantes do Rio começou por exibicionismo. A família Real vinha para se instalar no Brasil, fugindo da expansão napoleônica, em 1808. Aqui, já se falava com um sotaque diferente ao de Portugal, mas para se mostrar mais sofisticado, o carioca aproximou a língua do que entendia ser a forma chiada de falar de Lisboa, sede da Côrte. Era uma forma de acesso, um improviso para bem receber e se aproximar driblando hierarquias.
Mais de duzentos anos depois, o desejo de aproximação e de acesso ainda depende de muito improviso. Mas chiar, agora no sentido de reclamar, não adianta muito. É hora de novas estratégias de mobilidade: encontros que gerem transformação. A cidade das obras e dos grandes projetos (de segurança, de trânsito, de eventos públicos) muda a olhos vistos, mas há outra alteração pedindo pra acontecer. A das pessoas que fazem e pensam o Rio: nós. O Travessias 2013 é mais que uma exposição na favela, portanto. É um projeto de transformação de como olhamos para nós mesmos, para as favelas e para a cidade. Expor para reunir. Convidar para conviver. Olhar de outra forma para participar.
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